A aceitação de que nossas experiências consistem tanto do denso quanto do sutil suscita novas e
fascinantes dúvidas para todos nós, sobre como nossos sistemas sociais e nós mesmos devemos mudar.
Pense nos itens seguintes.
No materialismo, só o comportamento muda; a mudança no modo como as outras pessoas nos
veem é que é importante. Na nova visão, o modo como vivenciamos nosso ambiente interior é
igualmente importante. Em outras palavras, a felicidade é importante.
Segundo a antiga visão, a resposta à pergunta “o que é a mente?” é um menosprezo, não
importa.
Na nova visão, importante é quem dá significado. Se você não se importa, nada
importa. A matéria é importante porque nos permite fazer representações de sentimentos e
significados.
Na visão materialista, só aquilo que podemos computar é considerado válido, como o
pensamento racional baseado nos significados programados aprendidos com o passado, por
exemplo. Na nova visão, sentimentos, novos significados trazidos pela criatividade e
intuições são válidos
Na antiga visão, o amor é uma manobra existencial para o sexo. Na nova visão, o sexo é
importante não só porque permite a continuidade de nossa espécie, como também porque
pode ser usado para se fazer amor.
Na antiga visão, nossa falta de saúde mental, ou psicopatologia (neurose), é curável mediante
técnicas de modificação de comportamento ou psicanálise. Na nova visão, a neurose deve-se
principalmente a circuitos cerebrais emocionais negativos, e o melhor remédio consiste em
equilibrar esses efeitos, formando circuitos cerebrais emocionais positivos. Esta é uma
excelente descoberta recente da neurofisiologia: os neurônios cerebrais são muito plásticos,
o que nos possibilita criarmos circuitos cerebrais de aprendizado criativo ao longo de toda a
vida.
Na visão materialista, o papel dos arquétipos em nossa vida é duvidoso. Talvez eles tivessem
valor de sobrevivência caso houvessem evoluído de fato, talvez não. Na melhor hipótese,
eles podem ter uma conveniência social. Na nova visão, vivemos com o propósito de
aprender os arquétipos, a manifestá- -los em nossa vida.
Na antiga visão, vivemos apenas uma vida. Vivemos por causa do impulso de sobrevivência
de nossos genes, sem qualquer propósito real. Na nova visão, há significado em nossas vidas,
há propósito. Precisamos sobreviver, mas só para podermos explorar significados e conhecer
os arquétipos, manifestando-os em nossa vida. No entanto, quem quer que tenha tentadomanifestar qualquer um dos grandes arquétipos – verdade, beleza, justiça, amor e bondade –
sabe como isso é difícil. Assim, nosso desenhista (a consciência quântica) nos projetou de
modo que nossos padrões de hábitos mentais e vitais, bem como nossos padrões de
aprendizado, sejam armazenados de forma não local (Goswami, 2001). Quando, no futuro,
indivíduos usarem os benefícios de nosso aprendizado, herdando-os não localmente de um
espaço e de um tempo diferentes, eles serão nossas reencarnações. Isso não é apenas teoria,
há evidências substanciais a favor dessa postura (Stevenson, 1974, 1977, 1987).
Também há evidências diretas que sugerem que a memória de uma propensão aprendida seria
não local. Há algum tempo, o neurofisiologista Karl Lashley fez um experimento no qual
tentava estudar a localização do aprendizado de uma propensão no cérebro. Assim, ele
treinou ratos para encontrarem queijo num labirinto, e depois começou a cortar
sistematicamente partes do cérebro do rato, testando-o para ver se a propensão persistia.
Intrigado, ele descobriu que, até com 50% do cérebro, o rato treinado encontrava o caminho
até o queijo. A única conclusão é que a memória aprendida de uma propensão é não local.
Uma alternativa – a memória seria holográfica – foi aventada durante algum tempo pelo
neurofisiologista Karl Pribram, mas a hipótese perdeu forças.
Na visão materialista, só o corpo físico é real; só o corpo físico evoluiu a partir de um
ancestral animal. Nossa evolução é gradual e contínua, movida pelo acaso cego e pela
necessidade de sobrevivência numa luta pela existência em um ambiente em mutação
(Darwin, 1859). Na nova visão, além da evolução contínua, temos fases criativas da
evolução nas quais a consciência cria novas representações orgânicas dos campos
morfogenéticos que constituem os modelos vitais dos órgãos biológicos. Ainda de acordo
com a nova visão, a evolução não termina com a elaboração da representação do corpo vital,
mas continua com a elaboração da representação de significados mentais, assim que o
cérebro evolui e tem a capacidade de criar circuitos de significado.
A palavra “ecologia” vem do grego oikos, que significa lugar, e logos, que significa
conhecimento. Mas geralmente dizemos que a ecologia diz respeito ao conhecimento de nosso
ambiente físico. Esta é a antiga visão materialista. Agora que aceitamos o interior como um
lugar onde também vivemos parte do tempo, nossa rasa ecologia deve dar lugar a uma
ecologia profunda, na qual aprendemos a cuidar tanto do ambiente exterior como do interior,
de acordo com o filósofo Arne Ness (ver Devall & Sessions, 1985).
Do mesmo modo, nossa economia, que etimologicamente significa a administração do lugar,
precisa ser estendida para lidar não apenas com o bem-estar denso, mas também com o bem estar
sutil.
As três instituições sociais mais importantes da modernidade, o capitalismo, a democracia e
a educação liberal, evoluíram sob a atual visão cartesiana de mundo, com a meta de
proporcionar o processamento de significados para um número cada vez maior de pessoas.
Sob a influência materialista, essa meta elevada degenerou-se, limitando-se a interesses
triviais. Com a nova visão, temos a oportunidade de levar novamente essas grandes
instituições sociais para suas metas originais.
Sob a antiga visão materialista, a saúde pública diz respeito apenas ao corpo físico, e apenas
a medicina materialista e alopática é válida. A visão materialista produziu a atual crise da
saúde pública em virtude dos custos estratosféricos. A nova visão reconhece o poder da
medicina alternativa, que cuida dos corpos sutis e promete uma medicina integral e
econômica.
Ao assumir a posição de que “só a matéria é real”, o materialismo levou ao presente conflito
entre ciência e religião. Graças ao uso sagaz do secularismo – a separação entre Estado e
religião – os materialistas dificultaram o ensino de valores espirituais para as massas,
enquanto suas crenças materiais, pouco científicas (como a de que tudo é matéria), são
ensinadas livremente em escolas do mundo todo. Alguns religiosos se sentiram tão
ameaçados que recorreram ao terrorismo como forma de reação. A nova visão vai abrir
caminho para uma nova era de pós-secularismo, na qual a espiritualidade é científica,
permitindo um novo diálogo e um armistício.
- O ATIVISTA QUANTICO AMIT GOSWAMI